Marcelo Zacarelli

Marcelo Zacarelli

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13 setembro 2015

A Saudade que Ficou


Eu procuro flores por esta estrada
A saudade que ficou de alguém
Eu nunca havia feito isso antes
Eu só queria ver de novo o seu rosto
Mas o vento carregou as folhas para longe
E não levou consigo a minha dor...

Eu saio a te procurar pela noite
A gritar o teu nome pela chuva
Eu brinco com a lama da rua
E construo o seu rosto do nada
Toda solidão que de mim se aproxima
É tempestade, verdades e lágrimas

Mas o tempo cura toda dor
O mesmo tempo seca toda lágrima
Onde poderei encontrar o teu rosto
Ele mente para mim quando olho no espelho

Você apareceu em meu sonho
Prometendo que um dia iria voltar
Então eu saí correndo por aquela estrada
Na esperança de te ver de novo
Mas o vento carregou as folhas para longe
E não levou consigo a minha dor...

Se por ventura um dia você voltar
E eu não estiver mais aqui
Lembre-se que eu serei aquela tempestade
Que anuncia ao longe nos teus olhos
Um castanho sofrido e ressentido
O final desta estrada, flores da saudade que ficou.


"Em memória de Aldo Rodolfo Zacarelli"

Marcelo Henrique Zacarelli
Village, 21 de agosto de 2015

Cavalos ao Vento


Quanto tempo faz...
Eu não te vejo por aí
Quanta falta você faz em meu mundo
Ele não é mais o mesmo sem você
No coração de uma dama
A Saudade doeu...
Por que você foi embora
E nem se quer estendeu-me suas mãos

Cavalos ao vento
Correm apressados em meus pensamentos
Cavalos ao vento
Sem lugar para descansar

Eu atravesso as cocheiras
Na esperança de te encontrar
Eu escalo montanhas
Mais você não está lá
Eu rasgo o meu coração
Esmago-o até vê-lo sangrar
E tudo o que sinto é medo
Medo de que você não esteja lá

Cavalos ao vento
Correm apressados em meus pensamentos
Cavalos ao vento
Sem lugar para descansar

A última vez que sonhei com você
Estava sorrindo para mim
Tão livre como um cavalo ao vento
Você desapareceu pelo ar
Você nasceu para ser livre
Nenhum amor pode te prender
Vá em paz, pois eu compreendo
Que a minha dor posso suportar

Cavalos ao vento
Correm apressados em meus pensamentos
Cavalos ao vento
Sem lugar para descansar.

"Homenagem ao meu amigo, saudoso Cícero Alves Feitosa" (descanse em paz).

Marcelo Zacarelli
Village, 13 de Agosto de 2015

18 junho 2015

Metade Não Eu


Hoje a lua promete
Promete ser você
Promete ser eu...
Ninguém quer ser o céu
Imenso e obscuro
Você não o quer
Eu também não.

Estamos os dois a querer ser lua
Justo hoje que ela promete
Que se faz pela metade
Metade minha, metade sua...

Deixemos de bobagem
Quando urgem as núpcias dos amantes
A recíproca é a mesma do cinismo
Da sua parte a feminina
Da minha o machismo.

Tentamos então nos desvencilharmos
Quando você sou eu
Quando eu sou você
Repartamos o lado obscuro
A face oculta da nossa vaidade.

Estamos os dois a querer ser lua
É certo que hoje não a podemos
Hoje a lua está à metade
Metade você
Metade não eu.

Marcelo Henrique Zacarelli
Arujá, 12 de Setembro de 2014

Quiçá


Todo poema morreu
Todas as flores feneceram
Quiçá, o meu coração...

Súbito prelúdio que me acometeu
Se o que tenho é meu
Não dou a ninguém
Dentro de um ataúde eu escondo
Da carne ao pó,
Da alma a subtração

A sínica solene da minha despedida
Não reclame aos mortos
As estrofes perdidas...
Em cada lápide uma história
Onde começa, como termina
Tudo tem um fim;
A morte, a vida, a poesia...

Mesmo que a morte
Me esqueça por uma vida
Viverei intensamente para você
Todos os meus fatídicos dias
Meu amor; por mais que não me queiras
Não podereis dizer
Quiçá, o meu coração.

Marcelo Henrique Zacarelli
São Paulo, 08 de Janeiro de 2015
(Bairro Pinheiros)

O quê fazer com o orgulho ferido de uma mulher?


O tempo tem sido um inimigo duro
Todas as manhãs, em forma de pensamento
Por carregar consigo um amor singular
O amor de um pai por uma filha...

Quantas noites solitárias

Eu e meu amigo travesseiro
Lutando pelo não cair de uma lágrima (inevitável)
O quê fazer com o orgulho ferido de uma mulher?

O dia amanhece em meu quarto

É quando percebo que existo
Ao olhar o meu rosto no espelho
E ver as marcas de uma noite sofrida

Me fez lembrar daquele sonho

Esboçar um sorriso escondido
Tímido, incompreendido (incompleto)
Más o quê fazer com o orgulho ferido de uma mulher?

O destino é uma estrada adiante

Que machuca os meus pés
Más eu tenho que prosseguir (tenho que seguir)
Mesmo sem saber onde ela vai dar

Não sei até onde meu coração vai aguentar

Mas eu tenho um estepe guardado (a esperança)
Quando caminho descalço em um chão gelado
Para abrir as portas e deixar entrar a luz do teu olhar

Más o tempo, sempre ele...

Um juiz severo e justo, reduziu-me ao nada
Você será para mim a esperança de um no dia
Por mais que eu tente entender (eu me pergunto)
O quê fazer com o orgulho ferido de uma mulher.

Marcelo Zacarelli

Village, 18 de Junho de 2015

15 março 2015

Alma de Cavalo


Ele tinha a alma de cavalo
E o coração maior que do que todo este mundo
Era bruto como um diamante a ser lapidado
Mas brilhava mais que uma estrela na madrugada

Ele escondia por trás de seus olhos
Todos os sonhos de quando ainda menino
Ele cresceu quase que sem carinho
E tudo que almejava era amor em forma de canto de passarinho

Incompreendido era a sua maneira de amar
Ele via o amor onde jamais poderíamos encontrar
A vida havia-lhe sido severa desde a sua infância
Quando se tornou homem e exorcizou os seus próprios fantasmas

Confesso que não poderia lhe negar a minha admiração
E hoje a saudade galopa na frente dos meus pensamentos
Eu queria que o tempo pudesse parar por um momento
E lhe trouxesse de volta para te dar um abraço

Queria remanejar uma cavalaria nesta tua volta
Preparar-te uma tapioca, e também cuscuz do jeito que você gosta
Queria parar o cortejo desta estupida partida
Desmontar o roteiro mais triste desta nossa despedida

Saiba que onde você estiver
Os pássaros farão um concerto em sua homenagem
Em cada peito de um cavalo baterá o seu coração
Por que a tua alma ainda vive e é forte
Só não é mais forte do que a saudade que sinto
Nem mais forte do que a maldita solidão.

Homenagem a Cicero Alves Feitosa o nosso querido "Tio-Tio"

Autor: Marcelo Henrique Zacarelli
(Pinheiros) São Paulo, 27 de Fevereiro de 2015.



O Verde que lhe Falta


Se algum dia todas as cores se apagarem
Ainda terei um motivo 
Para furtar o verde dos teus olhos 
Emprestarei o verde ao mar,
O brilho ao sol,
O enigma aos mistérios
A malícia aos desejos...

Se algum dia vier a perder a direção
Tomarei emprestada a luz do teu olhar
Como bússola me guiará pelo caminho a seguir
E se um dia por acaso encontrar o arco-íris
Lembrar-me-ei que o verde que lhe falta 
Estará para sempre perdido no íntimo dos teus olhos.

"Homenagem à Camilla Fernanda"

Autor: Marcelo Zacarelli
Village, 03 de Janeiro de 2015.



31 agosto 2014

Bico de Lacre


Tu és uma fêmea arisca
Tua boca vermelha e viva
Incendeiam meus lábios que abdica
A morte, por que não a vida;

Tu és pequena toda vida
Franzina, exibida
De canto doído, sofrido
Cativeiro de saudade, amor desiludido;

Te amo em abril
Quando acasalas, meu corpo febril
Te amo também em maio
Quando se faz necessário;

Mas este tom da tua boca
Já não é pro meu bico
Fruta de pecado, carne louca
Bico de Lacre, amor de improviso.

"Homenagem à Fernanda Villarim Zacarelli"

Marcelo Zacarelli
30 de Agosto de 2014





30 agosto 2014

Esta tua Boca


Quando eu vi a tua boca
Eu bem que estava certo
Quando olhei o seu contorno
Era sede no deserto.

Ah! tua boca; Que boca...
Que vontade de beijá-la
Esta tua boca carnuda,
Eu morreria só de pensar
Eu até sonhei em poder tocá-la
Imagine só que vontade absurda.

Vendo você assim a morder os lábios
Do batom vermelho, saltar fragmentos;
Eu tento aparar com os olhos
Seus tormentos e resquícios,
É tanto desperdício 
Que chego a perder o juízo.

Você bem que podia parar de me olhar
Por mais que teus olhos me desejem
Eles se apressam a fechar,
Quando a tua boca 
Vem de encontro com a minha boca,
Malditos são os sonhos das minhas noites
Porque é que eu tenho que acordar.

"Este Poema foi inspirado em Fernanda Villarim Zacarelli"

Marcelo Zacarelli
São Paulo, 15 de Agosto de 2014



Eu Devia Saber


Eu devia saber que terminaria assim
A barba grisalha, esdruxula, crescida
Eu é que deveria me acostumar comigo
Assim tão cheio de mim, de alma vazia.

Preencho o quarto com tamanha solidão
Trancafiando enfim todo o pensamento
Tudo que restou de mim se resume em pôr do sol
Que toda tarde cai do firmamento.

Desço as ruas das lamentações
As tristes ruas de paralelepípedos
Dores e mais dores espalhadas pelo chão
Bocas a procura de sorrisos.

Eis que num outono gelado, geme;
Um coração fragmentado, devastado
Percorre por calçadas e bueiros
E desaparecem no uivar do vento.

Porém, mais uma noite se aproxima
Onde será que foi que me meti?
Preciso tomar um banho, arrumar a cama
Sem eu por perto não consigo dormir.

Amanhã de manhã, eu irei colocar a mesa
Vou tomar um café, refletir sobre o fim
Viver sem você á muito me deixou uma certeza
Eu devia saber que terminaria assim.

Marcelo Zacarelli
São Paulo, 15 de Agosto de 2014



17 agosto 2014

Lua em Chamas


Não olhe para o céu agora
O infinito paira como lamas negras...
Tal qual o noivo espera sua amada
Damas de honra, pequeninas estrelas;

Eis que surge no céu a tão sonhada noiva
Não olhe para não estragar a surpresa
Vestida de sangue, nua sangra louca
Embriagada de vinho posta sobre a mesa;

Não tente tocá-la com teus olhos em açoite
Porque febril a carne, esmiúça e sangra
Deitas com ela em tua primeira noite
Porque te faz queimar o coração em chamas.

Marcelo Zacarelli
Village, 11 de Agosto de 2014.


28 julho 2014

Maior do que o Mar


Eu descia para ver o mar
Todas as tardes, eu queria compreender,
Eu ficava a imaginar, um azul quase que infinito 
As gralhas quebravam um silêncio, 
Espantavam os meus pensamentos. 

Todas as vezes que o mar engolia o sol

Enfartava de um verde quase morto,
Bem parecido com o meu coração 
Eu ficava mais um pouco, 
Até que o mar quebrasse aos meus pés. 

Eu só queria compreender... 

Então voltava sempre vazio, 
Apenas preenchido de um pensamento, 
Muitas vezes maior do que o mar.

Marcelo Zacarelli

Village, 17 de Maio de 2014





Cidade de BH


Eu sei que vou te amar
Cidade de BH
Por onde quer que eu andar
Um pedaço de ti irei levar.

Eu sei que vou lembrar
Da minha querida BH
E a saudade promete apertar
Quando em São Paulo desembarcar.

Eu quero te enamorar
Minha princesa BH
Te compro aliança
Te levo pro altar
És Mineirinha pra casar.

No contorno de BH

Todo fim de tarde é assim
Eu parei só pra olhar
Transeuntes apressados
Pareciam não olhar pra mim.

Observando as luzes

Dos semáforos em constantes metamorfoses
Tuas alamedas arborizadas
Das beldades mineiras, encantadas...

O sol debruça por sobre Arranha-céus

Borrando o céu de um cinza alaranjado
Eu bem que queria anoitecer aqui
Como um boêmio; "Por Deus do céu".

Logo à noite cairá por sobre a metrópole

As luzes da cidade prometem brilhar
Uma noite só será o bastante
Pra nunca mais te esquecer
Oh! linda cidade de BH.

Marcelo Zacarelli

Belo Horizonte (MG), 26 de Março de 2014
Av. do Contorno, 2905 - Bairro Santa Efigênia.



Bocas que se Calam


O vento passa com suas mãos sorrateiras
Apalpando tudo que vê pela frente,
As árvores derrubarão suas bocas
Uma a uma todas famintas,
Molhadas e contorcidas
Estremecidas as procuram entre si...

Umas as outras sedentas

Por um bocado de orvalho,
Que possam matar-lhes a sede
Folhas caídas pelo vento sufocadas,
Bailam sozinhas sem destino
A procura do par recalcado.

Até que as árvores produzam

Outras bocas,
A saudade subsistirá
Transpassando os corações,
Bocas que se encontram
Por alguma razão,
E se calam pela dor da solidão.

Marcelo Zacarelli
São Paulo, 10 de Maio de 2014





Não Chore pelo Outono


Não chore pelo outono
A época de morrer,
Quando a terra começar a dormir
Desfrute do tempo de começar de novo.

Experimente do glorioso frio outonal,
Nesta noite de verão
As lágrimas desaparecerão
Somente as pedras permanecerão,
Logo eu e você desaparecerá
As pedras por si só permanecerão.

Se o vento mudar a direção

Atirando as folhas contra,
Um murmúrio esbravejado do céu
Irá detê-las todas elas.

Lembre-se que um pensamento

Independe das estações,
Um amor pode nascer no verão
E morrer no outono,
Assim como as folhas não descansarão
Até que encontre repouso num vazio coração.

Marcelo Zacarelli

São Paulo, 07 de Maio de 2014







02 março 2014

Liberdade no Xis


Há semanas ele está sóbrio
Abrigado do frio e do mau tempo
Da janela sozinho conversa com o vento
Que lhe sopram más notícias;

Lá no Xis, sempre quis
Ter liberdade para pensar
Extravasar por ora as dores
Compor a vida, sofrida de amores;

De pulsos cerrados
Invisivelmente algemado
Um homem sem sombra
Pelo sol esquecido;

A saudade da mulher que ama
Coração rabiscado na parede
A dor da qual se transforma em poesia
Passa a noite em claro, ao raiar do dia;

O relógio que marca
A eternidade do tempo
Grades e portões não as podem prendê-lo
Aquele homem no Xis
Coloca em liberdade o seus pensamentos.

Texto modificado (em partes) do seu Original
em: 02 de Março de 2014

Marcelo Zacarelli
Itaquaquecetuba, 17 de Maio de 2002





01 março 2014

As Rochas não Falam


A Solidão, esta; Que habita no meu coração
Praia deserta de rochas silenciosas
Contam um segredo só meu.
Falo aos passarinhos, estes zombam de mim
Em perfeita sinfonia caçoam do meu sofrer.

Desabafo então com as pedras
Estas, não podem opinar a meu respeito;
Por que as desgraçadas não podem ouvir?

Vejo ao longe o mar abraçar as rochas
Estas, oferecem-lhe a face
Para que o sal palpem-lhes o queixo...
Tenho lágrimas que o sal do mar
Não as podem enfrentar.

Acendo uma fogueira na areia
Esta, faz-me lembrar o teu calor
Tomo um vinho seco
E fico a namorar a lua até a madrugada.

Quando o sol despenca no travesseiro
Imaginário do meu leito,
Levanto e preparo uma jangada
Ponho-me a desbravar os oceanos...

Em terra firme queixo-me as pedras
Estas, ficam a admirar o meu sofrer
Parecem murmurar aos meu ouvidos;
Mais dia menos dia, tudo parece mudar
As areias, os mares, eu e a solidão...

As rochas continuam mudas
Quanto as minhas queixas
Estas, são todas ouvido.

Autor: Marcelo Zacarelli
São Paulo, 15 de Janeiro de 2014





12 fevereiro 2014

Valeu a Pena


Um dia bem cedo, quando o sol acordar espreguiçando
E, Eu, a colocar a espinhela caída sobre o pé da cama
De pijama a roçar o gelado piso em busca do chinelo perdido;
Quero lembrar-me à olhar para trás e vê-la ainda dormindo
Sutilmente, respirando com a boca entre aberta
Toda jovem de espírito, um anjo a sonhar...

Bem antes que a vontade de passar um gostoso café
Venho a fitá-la com todas as forças dos meus olhos
Encarando a tua face dócil e cheia de luz;
Acariciar os teus cabelos levemente, assim como a natureza
Surpreende na paciência de sua metamorfose
Dada ao crescimento de cada vida que respira
Quase que despercebida ao olho humano.

Minhas mãos cansadas e enrugadas tocarão a tua pele 
Só para ver o teu sorriso desabrochando como as flores
Que abraçam a primavera numa saudade incontido;
Um segundo que passa uma eternidade pela cabeça
Um filme que vivemos; Uma vida inteira
Que para só para observar este momento.

Valeu a pena acordar bem cedo;
Eu sempre acordo primeiro para te ver dormindo...
Bem antes que os teus olhos te acusarem
O milagre de um novo dia,
Quero ouvir a tua voz me chamando
Eu estarei aqui bem ao seu lado sussurrando em teus ouvidos
Eu estou aqui para servi-la; 
Obrigado por você existir e ser a minha esposa.

Quero te dizer que te amo
Como fosse o meu último dia de vida
Quero esperar ansioso pelo anoitecer
E amá~la como fosse a primeira vez.

"Inteiramente inspirado em Gina Fernanda V. Zacarelli
Minha eterna e amada esposa"

Marcelo Zacarelli
Cotia (SP),10 de Fevereiro de 2014


Um Pouco de Mim


Adoro-te!
Por me fazeres amar...
Quanto tens do teu amor?
O suficiente para te fazer feliz.

Se por ventura me faltares?
Saberás que te amei...
Quanto destes do teu amor
O suficiente para não esquecer-me.

Se por ti duvidares?
Quanto mais ainda tens?
Um pouco de mim e acaba...

Não saberás quem eu sou
Procuro por mim e não te acho
Não procures por mim
Pois de ti sou pedaço.

Marcelo Zacarelli
São Paulo, 10 de Janeiro de 2014



A Tribo dos Remanescentes


Dispersaram-se os corvos da imunda carnificina
Atiçaram os coiotes predadores, dentre o sangue das feridas;
Abutres disputavam os restos mutilados
Dos flagelos que tornastes tua tribo.

Vós, os remanescentes da grande tribulação
Sereis devorados em um só golpe
Teu exército sucumbirá como o pó do deserto
Qual sobe feito redemoinho a soprar em teus ouvidos
O estridente ruído da indignação.

Estarei adjunto a infantaria pesada
Subiremos montanhas à caça da vossa carcaça
Devastaremos as vossas esperanças
Aniquilaremos as vossas rosas
O vosso jardim tornar-se-á um seol de pétalas despedaçadas.

Cantaremos um cântico fúnebre em memória da vossa derrota
Na terra do esquecimento, as tuas lápides estarão em negrito
Todo olho que ver, lembrará da desonra da tua tribo;
Fecharemos a boca dos grandes lobos
Arrancaremos as vossas mandíbulas.

Todos os teus pensamentos tornaram-se ruínas;
Então escolheremos outros povos
Formaremos uma tribo leal aos nossos conceitos
Toda ideologia fútil escarnecida.

Jaz em um ataúde consumido pelo tempo
Seremos a tribo dos cavaleiros indulgentes
A vós antepassados desobedientes
Sereis lembrados na vergonha
Pela tribo dos remanescentes.

Marcelo Zacarelli
São Paulo, 24 de Janeiro de 2014



25 janeiro 2014

O Meu Jardim Imaginário


Certas coisas me deixam atônito
Outras esperançoso
Fumo um cigarro por inteiro
Já quase no fim da vida
Dispenso-o agonizando
Na plataforma da velha estação
Transeuntes se despedem
Se abraçam; É a saudade, é a solidão...

Eu fico com a despedida do trem

Se parece mais com meu coração
Sigo sem destino pelos trilhos da ilusão
As vezes penso que estou ficando velho
Daqueles que precisam do balanço
De uma velha cadeira
Que senti a necessidade do calor
Da quase apagada lareira.

As vezes me sinto um garoto sonhador

Daqueles que saem no inverno para comprar sonhos
E toca o mais profundo gelo, a sua dor...
Suas mãos pequeninas, curtas o bastante
Para tocar o íntimo de uma flor.

O tempo vai passando com seus ponteiros sorrateiros

Parecem nunca parar para descansar
Vejo sua foto, amarelada pelo passar do tempo
Porém teu sorriso é intacto, e me encanta.

Quantas primaveras ainda terei de esperar

O meu jardim imaginário reclama
A raiz desta tua ausência;
Serás para sempre a mais bela rosa
Todas as tuas rebeldes pétalas
São para mim favos de mel
O pousar da mais completa abstinência
Daquilo que me consome e se chama amor.

Estou disposto a desafiar o tempo

Mesmo jovem ou ainda velho
Ainda sinto aquela brasa semiapagada;
Não partirá o trem, nem haverá despedidas
Enquanto não crescer aquelas mãos pequeninas
Elas podarão do jardim a mais linda flor
Então poderei descansar o meu coração.

Quero apalpá-la somente mais uma vez

Sei que teus espinhos hão de perfurar minhas mãos
Sangue do meu sangue, metade minha
Amar-te-ei com todas as minhas forças
No meu jardim imaginário
Rego todos os dias com minhas lágrimas
Teu caule forte e franzino
Paloma, metade minha.

"Homenagem a você, Paloma Cristina Zacarelli 
Minha filha, minha metade, para toda vida."

Marcelo Zacarelli
São Paulo, 24 de Janeiro de 2014